Devaneios em forma de arrumações!

Monday, March 17, 2008

"E, como o passado cresce sem parar, não há nenhum limite à sua preservação. A memória […] não é uma faculdade de arrumar recordações numa gaveta, ou de inscrevê-las num registo […] Na realidade, o passado preserva-se a si mesmo, automaticamente. Provavelmente acompanha-nos na sua totalidade a cada instante […]"

Henri Bergson, in A Evolução Criadora




Hoje andei (mais uma vez!) a fazer arrumações no meu quarto.
Tirar tudo das gavetas e estantes, deitar fora o que não é preciso, organizar o que fica.
Papelada, bilhetes de tudo quanto é sítio onde fui, cartas, postais e dedicatórias, fotografias antigas, recordações, bonequinhos e bonecada , coisas e mais coisinhas...

Foi um corte com o passado...
Não foi um virar de costas violento, triste, ou mau, antes pelo contrário!

Foi uma arrumação temporal de fases que passaram, mas que já não fazem parte de mim do mesmo modo que faziam. São agora memórias e aprendizagens assimiladas, coisas que foram ficando pelo que me trouxeram de novo...

Muito disso (a parte material) desapareceu agora para dar início a uma nova fase...
Mas só desapareceu o que não interessava, o que não desapareceu ficou tudo arrumadinho, cada momento organizado no seu sítio, a intenção não era tornar isto num adeus frio e doloroso!

O acto de rasgar com o passado não é uma ofensa, nem uma oportunidade de mágoa (como li à uns tempos não sei onde)!
Há nostalgia presente, claro, mas chego à conclusão de que tudo faz sentido no seu tempo (já pareço uma velha a falar!!)...
E o importante é aprender com as coisas, tirar delas lições e recordações...
O deitar fora um bilhete de um sítio onde fui e onde aconteceu qualquer coisa especial (por exemplo, não quer dizer que tenha mesmo acontecido!!) não quer dizer que me vá esquecer do que lá aconteceu só porque já não tenho o bilhete comigo!...
As memórias ficam, e essas não se desvanecem com o ir embora do material que as suportava!



Cheguei à conclusão de que se aprende imenso a fazer arrumações destas...

Há coisas que doem, ver que amigos não duram para sempre, ver que nos podiamos ter preocupado mais com qualquer coisa ou pessoa em determinada altura, ver que paixões que julgavamos para sempre desvaneceram bem mais depressa do que esperavamos!
É engraçado apercebermo-nos de todas estas e outras coisas só a mexer em papéis ou pedaços de vida guardados...
Há coisas que doem, mas vistas à distância todas estas coisas nos podem trazer algo de bom... pelo menos podemos sempre aprender com os erros cometidos!...

E depois há coisas que fazem rir, ver fotografias antigas de momentos bem passados, ter uma flor seca que veio não sei de onde, ler qualquer coisa que alguém escreveu nas costas da capa de um livro!
É engraçado apercebermo-nos de que conseguimos sorrir com coisas tão simples...
E é tão bom sorrir assim...



Passo sempre imenso tempo a ver tudo, a ler tudo, a pegar em tudo...
Mas eu não acho que seja tempo perdido...


2 Comments:

Blogger Bitoque clássico said...

vas inspirada***

March 18, 2008 at 2:25 AM  
Anonymous Anonymous said...

Eu sou testemunha! Sou uma andorinha e ontem voei até à tua janela.Espreitei e vi os sacos de lixo, a roupa k já não servia, os cacos e os cacarelhos...e tu de pijama todo o dia!
k grande arrumação!
Mas parece-me k daki a dois dias já terás o quarto cheio de tralha outra vez. Keres apostar?

March 18, 2008 at 10:09 PM  

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